TAMJJ3054: Os bastidores de uma tragédia

01:13 Postado por AFAVITAM

Daqui a pouco mais de dois meses, no 17 de julho de 2009 completam dois anos da tragédia do voo TAMJJ3054, que decolou de Porto Alegre para levar à morte 199 pessoas e dois bebês em gestação, no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Naquele dia de 2007, muitas famílias tiveram as suas vidas totalmente transformadas, exatamente às 18h51min48seg, hora precisa e cruel da explosão do Airbus que se chocou contra o prédio da própria TAM. Na aeronave 187 vítimas, duas das quais grávidas; em terra, 12 mortos, 11 deles funcionários da empresa aérea, que estavam próximos de encerrar o seu expediente, e o outro era um jovem taxista que abastecia seu carro nos posto de gasolina, ao lado do prédio da TAM.

É difícil traduzir e dimensionar em palavras o espanto cruel, o pesadelo, o turbilhão de pensamentos, dos familiares das vítimas que assistiram em rede nacional, pela TV, pais, mães, irmãos, conjuges, namorados, filhos, sobrinhos, netos, amigos, colegas de trabalho, famílias inteiras, serem incinerados. Ao mesmo tempo que eram - os parentes amargamente sobreviventes aos seus -, lançados do anonimato familiar ao universo da mídia. Primeiros dias após o acidente: a dolorosa peregrinação ao Instituto Médico Legal (IML), de São Paulo, em busca da identificação de seus entes tragicamente roubados. Alguns levaram dias para serem identificados, outros semanas, outros, ainda, nunca tiveram um fragmento sequer localizado que possibilitasse a identificação. Nem um grão restou do que antes era a vida de um bebê, dois homens e uma jovem. Nada. Quanto aos familiares das vítimas? De cidadãos comuns passaram a especialistas em reconhecimento de restos humanos carbonizados.

As causas? Ganância e desrespeito às leis por parte da TAM (O Lucro Acima de Tudo! É o mandamento número 1 da empresa). Incompetência, descaso e negligência por parte da Infraero e da ANAC. Incompetência novamente, insensibilidade e falta de vontade política do Governo Federal, que insiste em tratar o cidadão brasileiro como se fosse alguém de segunda classe, e que se curva ao interesse econômico privado. Quanto aos familiares das vítimas? De cidadãos comuns passaram a especialistas em sistema aéreo brasileiro.

Ao longo destes quase dois anos, talvez todos venham acompanhando a peregrinação, traçada na dor, dos familiares das vítimas do voo TAMJJ3054. Muitos podem se perguntar: mas afinal o que essa gente quer? Essa gente quer a Verdade e a Justiça. Dizem que "a dor ensina a gemer". Neste caso, a dor ensinou a lutar. Reunidas em torno de uma associação (AFAVITAM) os familiares das vítímas, além de quererem saber as causas do acidente, lutam para que algo semelhante não aconteça novamente. Se acontecer que seja por um infeliz acidente, não de forma anunciada pela ganância, pela incompetência e pelo descaso, como aconteceu com esse fatal e doloso voo da TAM.

Quanto aos familiares das vítimas? Insistem em se manter unidos. Acompanham passo a passo as investigações. Querem respostas. Cobram. Exigem punição aos culpados. Não dão trégua a quem quer que seja. Estão persistentes, coesos, corajosos, irmanados fraternamente como uma grande família. Família composta da perda irreparável, renascida na solidariedade mútua e no desejo de que outras famílias não passem pelo que elas estão passando. Estão errados?

Roberto Corrêa Gomes - Assessor de Imprensa Voluntário e Familiar de Vítima